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Madalena Santos Reinbolt: uma cabeça cheia de planetas

Madalena Santos Reinbolt: uma cabeça cheia de planetas

Madalena Santos Reinbolt: uma cabeça cheia de planetas

O MASP apresenta a mostra monográfica Madalena Santos Reinbolt: uma cabeça cheia de planetas, que ocupa a galeria do 1o subsolo do museu. A exposição reúne 44 trabalhos, entre pinturas e tapeçarias – realizadas entre as décadas de 1950 e 70 – que expressam a subjetividade imaginada da artista baiana através de um vasto mundo de personagens, paisagens e situações do cotidiano.

Madalena Santos Reinbolt (Vitória da Conquista, BA, 1919 – Rio de Janeiro, RJ, 1977) cresceu com a família em uma pequena fazenda, onde ainda na infância teve seus primeiros contatos com o bordado, a tecelagem, a cerâmica e a pintura. No início da vida adulta, Santos Reinbolt saiu de Vitória da Conquista para trabalhar em Salvador, depois em São Paulo e no Rio de Janeiro, até chegar,Madalena Santos Reinbolt em 1949, a Petrópolis, onde trabalhou na fazenda Samambaia, residência da arquiteta Lota Macedo Soares (1910-1967) e de sua companheira, a escritora estadunidense Elizabeth Bishop (1911-1979).

Embora conectada desde muito cedo ao exercício criativo, foi somente nos anos 1950 que a artista passou a se dedicar à produção de pinturas, traçando figuras sintéticas com pinceladas expressivas e utilizando suportes frágeis, como papel ou palha, indicando a importância da materialidade em sua produção. Aos poucos, as produções de Madalena Santos Reinbolt chamaram a atenção de Lota Macedo e Elizabeth Bishop, que demonstraram interesse em vender as suas obras.

Mais tarde, no final da década de 1960, Santos Reinbolt inicia a produção de seus singulares e pioneiros “quadros de lã”, realizados com 154 agulhas, em diversas cores, como uma paleta, que a artista usa à maneira de pinceladas sobre a estopa ou a talagarça. “A agulha torna-se dessa forma um prolongamento da mão, como o pincel na pintura. É assim que Santos Reinbolt obtém a movimentada superfície de suas tapeçarias, dinâmicas, volumétricas e altamente cromáticas”, descreve Amanda Carneiro.

“Em ambas as técnicas há em comum a expressão de cenas amplas, criadas em grandes massas, com motivos esquemáticos e de onde pouco a pouco conformam-se os limites que ensejam as personagens, a fauna e a flora, as cidades, os parques, as igrejas e as lagoas – ambientes de sociabilidade que integram humanidade e natureza, de onde surgem seus enredos em narrativas reimaginadas”, explica a curadora. “Seus quadros sugerem um movimento que ultrapassa os elementos que os constituem individualmente, como se, em conjunto, fossem animados, vibrando em lampejos a invenção de uma memória que opera a construção do fio de sua vida”, finaliza.

Pouco reconhecida em vida, ainda hoje há um grande silêncio dos museus e espaços de arte em relação ao pioneirismo de sua produção, algo que a mostra no MASP espera diminuir. Reinbolt não obteve autonomia financeira e tampouco reconhecimento do sistema artístico para viver somente de sua produção criativa. “A artista produziu de forma solitária, em uma situação de intimidade e de evidente separação de classe das divisões de trabalho e do racismo estrutural, tão enraizados nas relações sociais no Brasil e que ainda impactam profundamente a posição da mulher negra na sociedade", pontua André Mesquita.

Em muitos lugares ao redor do globo, a costura e o bordado têm sido codificados como atividades femininas, sendo associados majoritariamente ao trabalho das mulheres. Assim, é importante situar as contribuições de Santos Reinbolt dentro do campo artístico dedicado ao trabalho com têxteis. Do fim dos anos 1960 até hoje, muitas artistas que se autointitulam feministas e queer vêm resgatando o fazer têxtil de sua condição marginalizada como decoração menor – movimento este que começou no exato momento em que a própria Santos Reinbolt se voltou para o bordado.

O têxtil no século 20 foi mobilizado como forma de testemunho político e como um meio de retratar, em particular, circunstâncias de traumas coletivos, como guerras, migração forçada e desapropriação de terras. Exemplos do bordado como forma relativamente barata e acessível de testemunho feminino proliferam em uma gama de culturas não só porque seus materiais são oportunos, mas por causa de suas qualidades táteis e de sua capacidade para contar as histórias das mulheres. O bordado, portanto, funciona como um arquivo corpóreo e alternativo daqueles que estão “por baixo” para contestar narrativas oficiais e dominantes.

O título da exposição – Uma cabeça cheia de planetas – se deve a uma declaração da artista, das poucas que concedeu publicamente, quando foi questionada pela curadora e crítica de arte Lélia Coelho Frota acerca da razão de suas escolhas de temas e elementos contidos na obra Árvore do Pai Bié (1974): “Era todos os bichos viajando tudo com fome pelo uma ilha, e já estavam com muita fome. Era muita seca, e tava lá os pé de fruta madura. Eles não sabia se comia ou não, mas o macaco sabia que comia. O macaco avançou na fruta e tiraram e comeram todas penca madura e virou pros outros bichos, que era bobo, e falou: bicharada, as frutas vocês podem comer, não mata ninguém, chama árvore do pai bié. Essas são histórias do meu miolo, sabe, eu tenho a cabeça cheia de planetas”.

Madalena Santos Reinbolt: uma cabeça cheia de planetas está organizada de maneira não cronológica e sem distinções entre as pinturas e os “quadros de lãs”, mas pensada a partir dos temas evocados por sua obra. A mostra, a primeira dedicada à artista autodidata, pretende reverberar e ampliar o debate em torno de sua história e contribuição para a história da arte brasileira.

A exposição integra a programação bienal do MASP dedicada às Histórias brasileiras (2021-22), por ocasião do bicentenário da independência do Brasil, em 2022.

MASP

Avenida Paulista, 1578, Bela Vista.

São Paulo/SP, Brasil

Visitação: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.

www.masp.org.br

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