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Um novo despertar afro-indígena: o ano em revista

An Afro-Indigenous Reawakening: The Year in Review

Em sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: Olinda Tupinambá, Equilíbrio, 2020. Videoinstalação composta por terra e sementes. Cortesia da artista; Coletivo MAHKU na 60ª Bienal de Veneza Foreigners Everywhere (Estrangeiros em todo lugar). Foto: C&AL; Estúdio de Julianny Ariza Vólquez em Santo Domingo, RD. Fotos: Marny Garcia Mommertz.;Johan Samboni, Ensayo sobre pandillas, videojuegos, Internet y palmeras (Ensaio sobre quadrilhas, videogames, internet e palmeiras), exposição no Programa C. Cortesia do MAMM. Foto: juevesdoce

18 December 2024

Magazine América Latina Magazine

Words Will Furtado

5 min de leitura

Nosse editore-chefe reflete sobre as pessoas e os momentos que tornaram este ano tão inesquecível.

Este foi um ano agitado para a arte e a cultura de Abya Yala/Pindorama, por conta de todas as exposições empolgantes em um momento de mudanças profundas em muitas partes do mundo. E já que o ano de 2024 está terminando, esta retrospectiva destaca as pessoas e os momentos registrados no radar da C& América Latina.

Comecemos pela eleição de Claudia Sheinbaum como a primeira mulher presidente do México em um governo centrista, o que foi uma surpresa bem-vinda, dados os deslocamentos políticos que estão ocorrendo nos EUA. Sua recusa em convidar o rei da Espanha para a cerimônia de posse, após ele não ter se desculpado pelas atrocidades da invasão espanhola das Américas, foi um dos muitos lembretes sutis e não tão sutis da natureza persistente do colonialismo atualmente.

Este sentimento de recusa e resistência decolonial também tem estado presente nas artes há algum tempo, e 2024 já se anunciava como um ano significativo para as culturas indígenas. Em 2023, foi lançada aBienal das Amazônias, em Belém do Pará, e o MASP, em São Paulo, abriu sua primeira exposição coletiva dedicada aartistas pan-indígenas. O diretor do MASP, Adriano Pedrosa, foi convidado a fazer a curadoria da 60ª Bienal de Veneza, provocativamente intitulada Strangers Everywhere (Estrangeiros por toda parte), em um país liderado por um governo de extrema-direita. Como esperado, ele trouxe diversas perspectivas indígenas das Américas, incluindo vários artistas que já promovíamoshá algum tempo. Com o primeiro latino-americano a fazer a curadoria da bienal italiana, o evento estava predestinado a ser controverso. Certamente dividiu o público. Muitos não conseguiram relacionar-se com grande parte da arte oriunda da Maioria Global. Um dos seus efeitos, no entanto, foi colocar artistas indígenas firmemente no mapa da “aldeia artística ocidental” e, consequentemente, no mercado de arte a ela associado.

Glicéria Tupinambá, Manto tupinambá [Tupinambá Mantle], 2023. Courtesy of the artist. Foto: Glicéria Tupinambá

Glicéria Tupinambá, Manto tupinambá [Tupinambá Mantle], 2023. Courtesy of the artist. Foto: Glicéria Tupinambá

Se a mercantilização da produção cultural indígena é algo totalmente positivo é uma questão totalmente diferente, que merece sua própria dissertação de doutorado, especialmente quando grande parte da epistemologia indígena é inerentemente anticapitalista e voltada para a comunidade. De qualquer forma, houve cenas maravilhosas na 60ª Bienal de Veneza, incluindo a imponente instalação de MAHKU na fachada do pavilhão internacional no Giardini, que funcionou como um gesto emblemático. O próprio pavilhão do Brasil foi renomeado para Hãhãwpuá (o nome Pataxó para o território brasileiro) para receber sua primeira representação indígena. Entrevistei pessoalmente os curadores Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana, que me contaram sobre o processo de seleção de Glicéria Tupinambá, que convidou, ela própria, outros a participarem. Os curadores falaram em uma voz coletiva e me disseram, de forma memorável, que, acima de tudo, “a comunidade é mais importante do que a obra em si!”

A construção de comunidades aliada ao movimento decolonial, que está se firmando em todo o continente, é algo com que nós da C&AL nos envolvemos fielmente. Neste ano lançamos a série Afro-indígena, que analisa a interseção há muito negligenciada entre essas duas identidades no contexto de Abya Yala/Pindorama. Isso inclui uma matéria sobre a escultora mineira Maria Lira Marques, de 79 anos, escrita por Maya Quilolo, bem como minha entrevista com o pintor de mundos digitais Johan Samboni, de 29 anos, de Cali.

Realizamos vários workshops de redação crítica no continente americano, como no Centro Cultural BanReservas e na Universidade Autônoma de São Domingo, na capital da República Dominicana, na Jamaica Art Society, em Kingston, e em Dallas. Além disso, realizamos nosso primeiro workshop online focado no Caribe em conjunto com o Caribbean Cultural Institute, no Pérez Art Museum Miami – em três idiomas!

Tessa Mars, Une chanson pour une île en feu (A Song for an Island on Fire), 2024. Photo: Erik López

Tessa Mars, Une chanson pour une île en feu (A Song for an Island on Fire), 2024. Photo: Erik López

Nossa rede no continente está se expandindo rapidamente e isso é algo que queremos valorizar e manter. Por esse motivo, vários de nossos artigos são escritos por participantes de nossos workshops. Para citar alguns, temos um artigo sobre Tessa Mars e a espiritualidade haitiana, de Ervenshy Hugo Jean Louis; outro, sobre Ismael Davi e Exu, por Matheus Morani; mais um, sobre carnaval, corpo e território, escrito por Rachel Souza; e, ainda, sobre Keila Sankofa e a construção do espaço-tempo afro-indígena, de autoria de Kariny Martins.

Aproveitando nossas longas viagens por Abya Yala/Pindorama, lançamos a série Visitas ao Estúdio, na qual visitamos artistas em seus espaços criativos para uma troca intimista. Por enquanto, você pode acompanhar a visita aos estúdios deAnaïs Cheleux, fotógrafa de Guadalupe, e deJulianny Ariza Vólquez, artista dominicana que explora a identidade caribenha através de lentes indígenas, afrodescendentes e femininas, ambas proporcionadas a você pela nossa managing editor, Marny Garcia Mommertz.

Falando em Caribe, neste ano perdemos Caryl* Ivrisse Crochemar, curador martinicano e diretor-fundador do espace d'art contemporain 14N 61W. Ele era um apoiador engajado da C&, que nos conectou a muitos artistas em toda a região, e participou de nossa série de palestras no 1-54 Forum, em 2020. Continuaremos a saudar e celebrar sua vida e obra.

Para finalizar, gostaria de lembrar que, ao apoiar nosso trabalho e tornando-se um Moon Member no C& Patreon, você receberá uma C& Collector's Box exclusiva, com todas as edições impressas das revistas C& América Latina e C& Magazine!

Will Furtado é editore-chefe da C& América Latina (C&AL).

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