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Más Arte Más Acción na documenta 15

Más Arte Más Acción at documenta 15

Leonel Vásquez, Auscultar um território de nascimentos. Nuquí, 2019. Cortesia: Más Arte Más Acción.

29 August 2021

Magazine América Latina Magazine

Words Velia Vidal Romero

5 min de leitura

A organização artística colombiana se reinventa atualmente e prepara sua participação na documenta 15, em 2022.

Más Arte Más Acción (Mais Arte Mais Ação - MAMA) é uma organização colombiana sem fins lucrativos fundada em 2011 pelo artista Fernando Arias e pelo empresário Jonathan Collin. É uma plataforma de projetos artísticos interdisciplinares que envolve colaboração com comunidades da região do Pacífico. Atualmente a MAMA é liderada por Ana Garzón e está em transição para uma direção coletiva, na qual Alejandra Rojas será responsável pela representação legal, bem como pela produção da presença da organização na documenta de Kassel em 2022.

O exercício de uma direção coletiva representa a evolução que os processos da organização tiveram ao longo dos anos, caminhando para uma maior horizontalidade e dando um lugar significativo aos processos que têm como base o Pacífico colombiano. Essa é uma das regiões mais afetadas pelo conflito armado, com presença majoritária de comunidades afro-descendentes e indígenas e uma grande biodiversidade que vem sendo ameaçada por megaprojetos que põem em risco o meio ambiente.

Uma das principais características da atuação da MAMA nesses dez anos foi a realização de um trabalho em rede. Dele participam não apenas as comunidades, coletivos ou organizações de Nuquí (Chocó), Buenaventura (Valle del Cauca) ou Quibdó (Chocó), mas também seus financiadores, como o Goethe-Institut, o British Council e a Fundação Pro Helvetia, além de museus, galerias, coletivos de artistas ou artistas independentes nacionais e internacionais, festivais e instituições estaduais.

A Más Arte Más Acción faz parte da rede Arts Collaboratory (AC), composta por 25 organizações de todo o mundo e focada em práticas artísticas, processos de mudança social e no trabalho com comunidades para além do campo da arte. A dinâmica da AC, por sua vez, marca a forma como a MAMA se relaciona com seus pares na Colômbia e no Pacífico.

Banco de Memoria Sonora: sonidos enraizados and the Cumbancheritos de Nuquí, Nuquí, 2020. Foto: Rafael Peña. Courtesy of Más Arte Más Acción.

Banco de Memoria Sonora: sonidos enraizados and the Cumbancheritos de Nuquí, Nuquí, 2020. Foto: Rafael Peña. Courtesy of Más Arte Más Acción.

Lumbung Pacífico

Ruangrupa, o coletivo indonésio responsável pela direção artística da documenta 15, selecionou os convidados para a exposição levando em conta o que chamam de valores lumbung. Esse conceito, o eixo da documenta de 2022, baseia-se na coletividade, generosidade, humor, confiança, independência, curiosidade, resistência, regeneração, transparência, suficiência e conectividade entre uma multiplicidade de lugares ou atores. O que a MAMA vem construindo ao longo de sua história e que a organização chama de Chocó como escola, coincide com o conceito lumbung.

A Base Chocó pode ser considerada um eixo transversal nos processos da MAMA. É um espaço físico localizado na floresta tropical, no distrito de Coquí, no município de Nuquí, e projetado por Joep Van Lieshout. Tem sido um lugar de reflexão e encontro entre artistas, cientistas, ativistas, escritores e comunidades em torno de várias questões sociais e ambientais.

Base Chocó, drawing by Joep van Lieshout, 2011. Courtesy of Más Arte Más Acción.

Base Chocó, drawing by Joep van Lieshout, 2011. Courtesy of Más Arte Más Acción.

A partir desse lugar e de seu entorno, foram tecidas relações com múltiplos atores sediados no Pacífico, como o Coletivo de Comunicações em Puja, o Conselho Comunitário de Los Riscales, organizações artísticas e comunitárias de Nuquí (e especificamente de Coquí), a Corporaloteca da Universidade Tecnológica de Chocó, a Fundação Mareia, a Corporação Motete, o coletivo audiovisual Puerto Creativo, a Escola Taller, de Buenaventura, Tura Hip Hop e Yemayá, entre outros. Por sua vez, organizações de outras regiões e cidades colombianas fazem parte desse lumbung que converge, às vezes pessoalmente às vezes através de ideias e colaborações, na selva, no rio Atrato e no mar Pacífico.

Talvez a melhor maneira de entender o que essa forma de trabalhar representa esteja nas palavras de alguns dos participantes. Fausto Moreno, morador de Coquí, diz: “Para nossa comunidade, este projeto é muito valioso, porque tornou visível a importância da preservação de nossos valores e de nossa ancestralidade. Ele nos deu a facilidade de entender que a arte pode ser feita de baixo para cima, que qualquer pessoa pode fazer arte. Também conseguimos potencializar todas essas estratégias artísticas que temos e que nunca acreditamos ser arte. Atividades como a pesca, a agricultura, o artesanato e a culinária são um sistema artístico que nos permite entender a idiossincrasia e a história de cada comunidade”.

Jhoan David Paredes estuda Cinema em Cuba e é diretor audiovisual do coletivo Puerto Creativo (Porto Criativo). Sobre sua participação nesse lumbung Pacífico, ele diz: “A MAMA apoia os processos do coletivo Puerto Creativo e iniciou em 2017 o projeto Postales del futuro (Cartões-postais do futuro), que visa criar uma ponte de comunicação audiovisual entre Nuquí e Buenaventura. Então me matriculei em uma escola de Cinema em Cuba e a MAMA patrocinou todo o meu processo de estudo”.

A inclusão da Más Arte Más Acción na documenta 15 significa, então, um convite extensivo a todos os atores desse lumbung.

Base Chocó, Nuquí 2011. Courtesy of Más Arte Más Acción.

Base Chocó, Nuquí 2011. Courtesy of Más Arte Más Acción.

Espaços de pensamento como obras de arte

A Más Arte Más Acción quer levar à documenta seus espaços para reflexão, as conversas, os encontros e os produtos desses diálogos, sem que esses produtos em si mesmos sejam o trabalho que se deseja expor. Isso inclui toda a experiência da Base de Chocó e quatro processos em que convergiram os diferentes atores mencionados: Postales del futuro, um intercâmbio que a partir do cinema documental promove e compartilha reflexões e visões; Atrato [COLLABORATIONS], uma série de colaborações entre artistas multidisciplinares sediados na Suíça e artistas cujo trabalho se baseia ou tem relação com Chocó e o rio Atrato, localizado na região do Pacífico colombiano; Impostergable, três residências artísticas e um encontro em Tribugá (Nuquí), com o intuito de fortalecer ideias em torno da soberania e das alternativas para o desenvolvimento, todas ligadas à resistência civil; e Diálogos posibles, conversas focadas nas mudanças climáticas e na justiça climática, envolvendo os povos indígenas da região amazônica, Chocó e Escócia, no período anterior e durante as negociações climáticas da COP26 da ONU.

O objetivo final da MAMA é que o diálogo não pare, e deixar um legado na região, a partir do reconhecimento dos processos locais ancorados no Pacífico colombiano.

Velia Vidal Romero é uma escritora colombiana, promotora de leitura e gestora cultural. É diretora da Corporação Educativa e Cultural Motete.

Tradução: Cláudio Andrade