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A Biblioteca Negra, Cuajinicuilapa, México

The Black Library, Cuajinicuilapa, Mexico

“A Biblioteca Negra em Cuajinicuilapa”. Foto: Raiz de la Ceiba

17 March 2022

Magazine América Latina Magazine

Words Serine ahefa Mekoun

6 min de leitura

Um olhar sobre bibliotecas e coleções de livros que guardam algumas publicações raras e muitas vezes esquecidas. O destaque dessa vez é a Biblioteca Negra no México.

A Biblioteca Negra foi criada em 2017, na cidade de Cuajinicuilapa, localizada na Costa Chica do México, a partir de uma colaboração com a Universidade Autônoma de Guerrero. A iniciativa é apoiada pela organização Raíz de la Ceiba, fundada pela antropóloga Olga Manzano, em colaboração com o artista convidado afro-mexicano Baltazar Melo. O objetivo primordial da organização é atender comunidades afro-mexicanas que permanecem marginalizadas no que se refere ao acesso a seus direitos culturais (a despeito do censo de 2019) e ao acesso à pesquisa sobre suas identidades históricas, espirituais e artísticas. Embora a produção cultural afro-mexicana ainda seja rara, a Biblioteca Negra disponibiliza um ponto de partida essencial para a centralização de trabalhos que abordam a negritude e os afro-descendentes no México. Esses temas têm sido, até agora, predominantemente estudados por estrangeiros e não em um contexto nacional, onde a identidade negra ainda é sistematicamente ignorada pelo Estado mexicano. A colaboração com a universidade permite que esses temas sejam integrados à educação das populações negras de Cuajinicuilapa e dos estados vizinhos.

“Processes, Contexts, Details”. Photo: Baltazar Melo.

“Processes, Contexts, Details”. Photo: Baltazar Melo.

"Sabemos que há inúmeros trabalhos de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre a comunidade afro-mexicana. Esses estudos estão em Chicago, na Alemanha ou até mesmo no Japão, mas nada in loco na comunidade. Incontáveis pessoas notáveis, incluindo fotógrafos e antropólogos, atuaram no México, muitos estrangeiros. Em um determinado momento, eles partiram, e agora seu trabalho acontece em outros países. Eles nunca voltaram. O que estamos fazendo, então, é documentar, para criar algo concreto, ou seja, um manifesto, para que o trabalho volte. Ou para que haja sempre duas cópias e uma delas permaneça na biblioteca da aldeia, pois essa informação que está sendo disseminada é nossa. É nossa história", Olga Manzano e Baltazar Melo

A iniciativa do grupo é incorporada no âmbito de uma prática artística que visa colocar a educação comunitária e a memória coletiva no centro de suas atividades, especialmente por meio de oficinas de pintura ou dança.

“Painting Atelier Cuajinicuilapa”. Photo: Raiz de la Ceiba

“Painting Atelier Cuajinicuilapa”. Photo: Raiz de la Ceiba

A biblioteca contém cerca de 300 volumes, muitos deles coletados através de uma chamada para doações divulgada em todo o México. As publicações incluem trabalhos acadêmicos etnográficos, resenhas de festivais e manuscritos produzidos entre o final da década de 1980 e o início dos anos 2000 por pesquisadores e autores mexicanos. A coleção mescla, em seu acervo, um número representativo de obras que testemunham a complexidade da questão racial no México, moldada por um sistema racista fundamentado em uma tradição de escravização e colonização, e as fortes conexões culturais transatlânticas com o continente africano e com outras comunidades indígenas da região.

Algumas obras podem ser acessadas online no site da universidade. A criação de um arquivo digital está atualmente em curso.

A seleção

Leyton Ovando, Rubén, Los culebreros. Medicina tradicional viva, CONACULTA, Culturas Populares e Indí-Genas (Os Curandeiros. Medicina tradicional viva, CONACULTA, Culturas populares e indígenas.)

Este livro sobre a medicina popular tradicional testemunha práticas ancestrais, antes muito comuns, em torno do culto da serpente em meio às populações indígenas e afro-mestiças do sul de Veracruz. Esta prática deu origem a um complexo código mágico-mítico-religioso em torno da relação entre o ser humano e a serpente, que tratava sacerdotes e curandeiros como as únicas pessoas autorizadas a curar picadas de cobra com ervas medicinais.

Diverse Guanajuato: The Flavors and Bitterness of Being Mestizo

Diverse Guanajuato: The Flavors and Bitterness of Being Mestizo

Guevara Sanginés, María, Guanajuato diverso: Sabores y sinsabores de su ser mestizo (Guanajuato diverso: Os sabores e dissabores de seu ser mestiço).

Este livro é um resumo de pesquisas realizadas a partir de 1990 sobre o papel que os afro-mexicanos escravizados e seus descendentes exercem, desde o século 16, na construção econômica e cultural da região de Guanajuato, uma das zonas de mineração mais importantes para os interesses da colonização hispânica. O livro traz uma introdução à organização social das famílias interétnicas e às implicações culturais da miscigenação afro-indígena.

Hey! Toro Prieto. The “Toritos de Petate”. A Tradition of African Origin Brought to Valladolid by Slaves of the Bantu Language in the 16th Century

Hey! Toro Prieto. The “Toritos de Petate”. A Tradition of African Origin Brought to Valladolid by Slaves of the Bantu Language in the 16th Century

Martínez Ayala, Jorge Amós, ¡Epa! Toro Prieto. Los “Toritos de Petate”. Una tradición de origen africano traída a Valladolid por los esclavos de lengua Bantú en el siglo XVI (Epa! Toro Preto. Os “Tourinhos de Petate”. Uma tradição de origem africana trazida a Valladolid por escravizados de língua bantu no século 16).

Esta é uma das únicas publicações existentes sobre o “Tourito de Petate”, a tradição Michoacán celebrada todos os anos durante o Carnaval. Esta dança do touro tem suas origens nos ritos praticados por pessoas escravizadas de língua bantu trazidas de Angola, Congo e Moçambique entre os anos de 1580 e 1640. A publicação é também complementada por um documentário: Ecos del Torito de Petate en Cuitzeo. No filme, vários especialistas opinam sobre a dança que mudou muito ao longo dos anos, tendo assumido vários significados.

Cruz Carretero, Sagrario, Martínez Maranto, Alfredo, et al., El carnaval en Yanga. Notas e comentários sobre uma fiesta da negritude (O Carnaval em Yanga. Notas e comentários sobre um festival da negritude).

Este pequeno livreto de 47 páginas, datado dos anos 1990, documenta a sobrevivência de décadas do Carnaval de Yanga, que reivindica a herança africana dos habitantes dessa cidade do estado de Veracruz, lembrando as conquistas política, legal e social dos antepassados afro-mexicanos que fundaram a primeira cidade negra livre na América colonial. A celebração ainda é realizada em agosto, em memória de San Lorenzo de Los Negros, um escravizado quilombola que criou as plantações de cana e usinas de açúcar da região.

The Chilena in Guerrero

The Chilena in Guerrero

Ochoa Campos, Moisés, La chilena guerrerense (A Chilena Guerreense).

Publicado pelo Instituto Cultural Guerrero no final da década de 1980, esse trabalho documenta a origem da dança “chilena”, na forma como é praticada no estado de Guerrero. Levados à Costa Chica, no século 16, por marinheiros chilenos, os ritmos de harpas e bandolins testemunham a fusão da música chilena cueca com a dança e o canto afro-mexicanos, além dos numerosos movimentos migratórios ao longo da costa mexicana nos últimos dois séculos.

A Organização Raiz de la Ceiba é dedicada à conservação e ao reconhecimento da cultura negra da Costa Chica, localizada nos estados mexicanos de Guerrero e Oaxaca, bem como à melhoria do meio ambiente de suas comunidades. Sua fundadora, Olga Manzano, é uma assistente social mexicana que vive em Guerrero. Ela é doutoranda em Antropologia pela Universidade de Valência. Sua pesquisa concentra-se em novas formas de abordar didaticamente comunidades e na integração do espaço público em seu cotidiano. Consultas sobre doação de livros podem ser enviadas para raizdelaceiba2013@gmail.com

Baltazar Castellano Melo é um artista visual e plástico afro-mexicano natural de Cuajinicuilapa. Seu trabalho é dedicado a mostrar a riqueza cultural de sua comunidade.

Serine Ahefa Mekoun é uma escritora e jornalista multimídia que trabalha entre Bruxelas e a África Ocidental. Ela escreve a respeito das comunidades de artistas e sobre como elas ativam a mudança social em contextos pós-coloniais.

Tradução: Soraia Vilela

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